domingo, 30 de julho de 2017

Poesia da Semana | O Amor é Um Cão dos Diabos, de Charles Bukowski


Hoje apresento a vocês o poema O Amor é Um Cão dos Diabos, do incrível Charles Bukowski. Esse poema foi retirado do livro de mesmo título, publicado no Brasil em 2007 pela editora L&PM Pocket, com tradução de Pedro Gonzaga. 


O amor é um cão dos diabos

pé de queijo
alma de cafeteira
mãos que odeiam tacos de bilhar
olhos como clipes de papel
eu prefiro vinho tinto
entendio-me em aviões
sou dócil durante terremotos
sonolento em funerais
vomito nos desfiles
e vou para o sacrifício no xadrez
e nas bocetas e nos afetos
cheiro urina nas igrejas
já não consigo mais ler
já não consigo mais dormir

olhos como clipes de papel
meus olhos verdes
prefiro vinho branco

minha caixa de camisinhas está passando da
validade
eu as tiro pra fora
Trojan-Enz
lubrificadas
para maior sensibilidade
tiro todas pra fora
e ponho três ao mesmo tempo

as paredes do meu quarto são azuis

para onde você foi, Linda?
para onde você foi, Katherine?
(e Nina partiu pra Inglaterra)

tenho cortadores de unha
e limpa-vidros Windex
olhos verdes
quarto azul
brilhante metralhadora solar

essa coisa toda é como uma foca
presa em oleosas rochas
e cercada pela Banca Marcial de Long Beach

há um tiquetaquear atrás de mim
mas nenhum relógio
sinto algo rastejar
ao longo de minha narina esquerda:
memórias de aviões

minha mãe tinha dentes postiços
meu pai tinha dentes postiços
e durante todos os sábados de suas vidas
eles recolhiam todos os tapetes de sua casa
enceravam o chão de tabuões
e o cobriam novamente com os tapetes

e Nina está na Inglaterra
e Irene está no abrigo municipal
e eu pego meus olhos verdes
e me deito em meu quarto azul

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Deixo neste post também a declamação de Hpcharles com participação de Jim Duran, disponível no Youtube.


Aceitamos indicações de poesias para os próximos posts! E viva a literatura!

Um comentário :

  1. OI, Gabrielly!

    Nossa! Eu fiquei chocada com o post e com essa poesia meio estrambólica! Mas, foi muito bom poder ler essa poesia de ponta-a-cabeça. Impactou positivamente! Ri muito e sonhei também! Abração, querida!
    Drica.

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