segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Resenha || A Biblioteca Elementar, de Alberto Mussa

Record, 2018 || 192 páginas || Skoob
Sinopse: Na calada da noite, na hoje chamada Rua da Carioca, um homem de casaca, pistola na mão, ameaça outro com capa à espanhola e botas de cano longo. Atracam-se. A arma dispara. O de casaca cai ferido mortalmente. Há uma testemunha, cigana, que também tem lá suas culpas. Entre os crimes que perpassam este romance policial situado no Rio de Janeiro do século 18, apenas um é de fato relevante; apenas um resume e simboliza o livro. E, contraditoriamente, é o único crime que não acontece. Alberto Mussa opera com perícia a narrativa, conversando com o leitor e palpitando sobre os dilemas dos personagens sem abandonar o posto de narrador, ancorado em pesquisa do vocabulário da época, do contexto, das ruas do Rio, do tráfico de escravos, do contrabando de ouro e da ação inquisitorial, sempre com uma técnica primorosa.  

RESENHA ✍

Romance policial que se passa no Rio de Janeiro do século 18? Sim, por favor. A Biblioteca Elementar é o quinto livro do "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro", iniciado com O Trono da Rainha Jinga. Autor premiado e um dos nomes mais proeminentes na nossa literatura atual, Alberto Mussa, escritor carioca, escreveu cinco tramas de mistério que se passam no Rio em cinco séculos diferentes, sendo A Biblioteca Elementar o último deles.

Neste livro somos apresentados ao Largo da Carioca, mais precisamente a Rua do Egito, que tem exatamente 19 casas e poucos habitantes. A quantidade pouca de gente não torna, de forma alguma, a rua menos movimentada. Quando um morador é atingido por uma bala e não resiste ao ferimento, muita podridão vem a tona naquela rua lamacenta.
"Amor, paixão são sentimentos abstratos, muito mais teóricos do que se costuma admitir. Poucos amam, na verdade, livremente; poucos amam além de si mesmos, ou dos limites constrangedores de suas circunstâncias."
Gostei também dos elementos míticos, astrológicos que o autor introduziu aqui; da interferência e influência da religião na vida dos habitantes da Rua do Egito (e no Brasil do século 18 como um todo), a Inquisição e a arte de propagar boatos. E Mussa não economiza nos detalhes, na aula de História, dando tantas voltas na trama que foi impossível adivinhar como aquilo terminaria de fato.


Fiquei bem impressionada ao iniciar a leitura e me deparar com uma narrativa bem intimista, com o autor conversando diretamente com o leitor, seduzindo e desvendando os mistérios que fazem a trama, abordando os muitos personagens com destreza e sagacidade. Demorei um pouquinho a acostumar, mas acabei gostando.
"Devo insistir num ponto: se as mitologias variam, e divergem entre si, condicionadas que são pela cultura e pela história, os problemas míticos, os problemas humanos são essencialmente os mesmos, independentes do tempo e do espaço."
Ciganos, índios e a Igreja de olho em tudo. A Biblioteca Elementar é um livro cheio de detalhes, é inteligente e inovador. Se você gosta do gênero policial e está atrás de uma narrativa diferente, envolvente e mitológica, recomendo a leitura desse aqui. Foi o meu primeiro contato com a escrita do Alberto Mussa (mais uma vez começando pelo final), mas já quero conhecer outras obras do autor.

P.s: Os livros são independentes e podem ser lidos fora de ordem :)

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