terça-feira, 26 de junho de 2018

Resenha || Confissões de um Jovem Romancista, de Umberto Eco

Record, 2018 || 162 páginas || Skoob
Sinopse: Umberto Eco publicou seu primeiro romance, O nome da rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas Confissões de um jovem romancista, escritas quase trinta anos depois de sua estreia na ficção, o autor rememora sua longa carreira como teórico e os principais trabalhos como romancista, refletindo sobre os processos que utiliza ao escrever ficção. Originalmente, os quatro ensaios do livro foram parte do programa Palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna, na Universidade Emory, em Atlanta, Estados Unidos. Ao mesmo tempo medievalista, filósofo e estudioso da literatura contemporânea, Umberto Eco se mostra um "jovem romancista" que ainda surpreende ao ensinar sobre a arte da ficção e o poder das palavras.

RESENHA ✍

Esse é um livro de não-ficção do escritor italiano Umberto Eco (1932-2016); um grande filósofo, teórico e bibliófilo, mantedor de uma coleção com mais de 30 mil exemplares, obras raríssimas e de grande valor histórico, intelectual e monetário. No livro A Memória Vegetal (Record, 2010) Eco faz um estudo sobre a importância do livro na evolução das civilizações e o mundo da bibliofilia, no qual ele viveu e contribuiu muitíssimo durante boa parte de sua vida. E agora, mesmo depois de sua morte aos 84 anos, essa sua contribuição no universo literário é e será, sem dúvidas, objeto de estudo de diversas pessoas ao redor do mundo.

Entre as obras mais conhecidas do autor estão O Nome da Rosa, Baudolino e O Pêndulo de Foucault. Eco vendeu dezenas de milhões de exemplares como romancista, mas também compartilhou muito de seu processo de escrita, sua relação com os livros e com a ficção em muitos ensaios e pequenos textos que são referencia em universidades e cursos (já me deparei várias vezes com seu nome no curso de Biblioteconomia) internacionalmente.
"[...] aprendi que um romance não é apenas um fenômeno linguístico. Na poesia, é difícil traduzir as palavras porque o que importa é o seu som, assim como seus significados deliberadamente múltiplos, e é a escolha das palavras que determina o conteúdo. Numa narrativa, temos a situação contrária: o universo que o autor construiu, os acontecimentos que nele ocorrem é que ditam o ritmo, o estilo e até a escolha das palavras. A narrativa é governada pela regra latina, "Rem tene, verba sequentur" - "Prenda-se ao tema e as palavras virão" -, ao passo que na poesia a formulação deve ser mudada para: "Prenda-se às palavras e o tema virá." (p. 15)

Quem me conhece (acompanha o Uma Leitora Voraz) sabe que sempre que tenho a chance leio as primeiras obras de um autor de renome - ou mesmo seus livros de não-ficção, ensaios e contos - antes de ler as obras pelas quais são conhecidos. No caso de Umberto Eco, nunca tinha lido os romances dele, por isso quando surgiu a oportunidade de ler Confissões de um Jovem Romancista, onde ele fala sobre seu processo de escrita, pesquisa e estudos sobre a literatura, não pensei duas vezes.

Este livro é composto de quatro ensaios: Escrevendo da esquerda para a direita; O autor, o texto e os intérpretes; Algumas observações sobre os personagens fictícios e Minhas listas, nesta ordem. Esses ensaios foram parte de um programa de palestras sobre literatura moderna da universidade Emory, de Atlanta.
"A ficção dá a entender que talvez nossa visão do mundo real seja tão imperfeita quanto a visão que os personagens fictícios têm o seu mundo. Por isto é que os personagens fictícios bem-sucedidos tornam-se supremos exemplos da "real" condição humana." (p.79)
Talvez se eu tivesse lido O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault teria aproveitado mais o livro, uma vez que o mesmo é recheado de spoilers sobre esses dois títulos e muitos outros da literatura mundial, como Anna Kariênina e Madame Bovary. São spoilers de momentos decisivos em ambos os livros e, como não li nenhum desses, fiquei um pouco chateada e muito perdida com as referências. De qualquer forma, Eco foi um grande escritor, pesquisador e bibliófilo. O Nome da Rosa é uma obra extremamente relevante da literatura de mistério e adorei conhecer um pouco sobre o processo de escrita e de pesquisa do autor na construção dessa narrativa e outros títulos seus.
"Não faço parte desse bando de maus escritores que afirmam escrever apenas para si mesmos. As únicas coisas que os escritores escrevem para si mesmos são listas de compras, que os ajudam a se lembrar do que comprar, podendo então ser jogadas fora. Tudo mais, inclusive os róis de lavanderia, são mensagens destinadas a outra pessoa. Não são monólogos, são diálogos." (p. 24)
As duas últimas partes do livro, sobre personagens fictícios e a relação leitor/personagem/autor, e sobre listas, onde Eco vai desde a definição do termo até usar como exemplos obras e figuras importantes. Foram talvez os ensaios que mais me agradaram no livro.

Leitura recomendada para quem já tem algum conhecimento sobre o autor e suas obras. Agora preciso me aventurar em seus romances...

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