sábado, 27 de janeiro de 2018

Resenha || O Livro dos Títulos, de Pedro Cardoso

Record, 2017 || 192 páginas || Skoob
Sinopse: Genuíno Jesus Cristóvão do Amanhã nunca gostou de ler, mas sempre gostou dos livros. Frequentador assíduo da livraria do seu Velhinho Livreiro, formou imensa biblioteca. Após conhecer e se apaixonar por Constança, editora-chefe de uma ONG sueca ligada à Unesco, resolve escrever – para conquistar o coração da amada – o seu primeiro e único livro: O livro dos títulos . Ator, dramaturgo e roteirista de televisão, Pedro Cardoso – o eterno Agostinho de A grande família – apresenta-nos, neste seu primeiro romance, uma nova faceta de sua genialidade. Explorando de forma original e surpreendente o seu dom para o humor, revela uma visão que é, ao mesmo tempo, crítica do mundo insano em que vivemos, mas também delicada sobre o que nos torna humanos. Nas palavras do autor: “Este livro foi escrito sob o impacto de uma profunda preocupação com o futuro do Brasil; mas não é só disso que ele trata, porque nunca a vida é monotemática. Há nele também perplexidade diante da linguagem, fascínio pelo amor romântico e respeito para com a loucura; vale-se de uma distopia irônica para confirmar a esperança; e aposta na crença de que o humor é um bálsamo para todos os nossos males.”.  

RESENHA ✍

O Livro dos Títulos é o primeiro romance do ator e dramaturgo Pedro Cardoso, mais conhecido por interpretar o personagem Agostinho Carrara no seriado A Grande Família, que ficou no ar por 13 anos, papel que lhe rendeu uma indicação ao Emmy Internacional como melhor ator.

Neste livro conhecemos Genuíno Jesus, um jovem simples que nunca conseguiu ler um livro (as palavras nunca fixavam em sua mente ou pareciam fazer sentido), mas sempre adorou os livros. Passava horas na livraria admirando centenas de exemplares, e levando alguns para sua própria coleção; pois apesar de não conseguir ler os livros, Genuíno simplesmente não conseguia ficar longe deles. Eram seu maior vício.

E passava horas com um livro na mão, fingindo ler enquanto sua mente já estava bem longe. E foi essa sua mania de andar sempre com um livro na mão que o aproximou de Constança, uma jovem rica que, depois de uma conversa sobre um livro que ele nunca leu, o cativou rápida e profundamente. Mas ela tem sua própria vida, um namorado e um futuro brilhante, bem longe de Genuíno. Mas ele não quer saber, e continua fantasiando sobre sua amada e sobre o futuro deles, colocando todas as suas esperanças nesse romance fictício... E é exatamente isso que ele faz, arrebatado pela possibilidade de conquistar o amor daquela mulher: ele começa a escrever um livro.
"Eu nunca gostei de ler, mas sempre gostei de livros. Quando era jovem, e cria que toda a gente prestava atenção em mim o tempo todo, eu carregava sempre um livro comigo e fingia ler. Eu acreditava que, sendo um grande leitor, ninguém jamais sentiria pena de mim por eu estar constantemente sozinho. O livro me protegia da piedade dos outros."
Enquanto isso, em capítulos intercalados, conhecemos Constança, uma editora bem-sucedida que trabalha em uma ONG sueca ligada a Unesco. Uma bela noite ela recebe um e-mail, que ela exita em ler, mas quando o faz fica encantada com o que encontra, e a cada noite recebe um novo pedaço dessa história que, coincidentemente, tem uma personagem com seu nome.


No meio dessas duas histórias tem uma outra bem atual e que já conhecemos bem: a do nosso país. Enquanto acompanhamos esses dois personagens, eles acompanham também, pelas notícias ou nas ruas, o declínio, a ruína em todos os lugares; privatização de praças, violência a todo momento, chacinas... e, claro, no meio de tudo isso: a roubalheira e o descaso na política.

Pedro Cardoso propõe reflexões sobre a realidade em que vivemos criando um cenário de "aproximação do fim" no país, e do qual não estamos muito distantes. Esses capítulos foram intensos e exigem um novo fôlego na leitura, que se manteve por muitos capítulos em uma constante, mas que do meio para o final foi ganhando uma cara nova, um ar diferente, indo do humor ao drama em poucas páginas e levando o leitor em uma viagem imprevisível.
"É uma violência muito grande apanhar de alguém. Quando a mão encontra o rosto, o tapa parece que invade a gente, atravessa a pele, os músculos, os ossos, e sai do outro lado levando um pedaço da nossa alma. Há uma perde de massa espiritual, por assim dizer, e uma parte do sistema nunca mais funcionará perfeitamente. Um tapa na cara rasga a integridade de uma pessoa."

Essa foi uma leitura que me surpreendeu do inicio ao fim. Comecei esperando gostar, como começo todos os livros, naquela expectativa baixa, porém com uma luzinha acessa, e tive uma ótima surpresa. A escrita do Pedro é limpa, cativante, e seu estilo criativo que leva a narrativa a enveredar por caminhos inesperados, cada capítulo levando o leitor a devorar o próximo; até chegar o último, tão corajoso quanto o primeiro, e todos os outros.

O autor escreve na orelha do livro uma pequena nota sobre sua vida e trabalho, e aqui descobrimos que o artista é disléxico, e luta diariamente para continuar escrevendo, lendo e aprendendo. Pedro nunca foi diagnosticado, e esse também é o caso de Genuíno, seu personagem.

O Livro dos Títulos é uma leitura que indico a todos! Fiquei muito feliz por ter pego o livro e agora definitivamente irei emprestá-lo e indicá-lo a todos os meus amigos. Leiam! :)

9 comentários :

  1. Oi Gaby!
    Eu não conhecia o livro e nem a história que ele conta. Mas fiquei encantada por sua resenha, parece ser um livro bem legal e com questionamentos bem válidos. Quero saber o desfecho que teve o protagonista e o seu livro.
    Beijos

    www.lendoeapreciando.com

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  2. Oi Gabs!
    Não conhecia a obra, gostei muito do enredo. Uma pegada de nada é impossível. Imagino ser um livro sensível e reflexivo. Vou anotar a dica. Parabéns pela resenha.

    Beijokas

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  3. Nunca tinha ouvido sequer falar este livro fascinante, espero que me surpreend porque já estou muito ansiosa para o ler, o achei tão incrível ^^ vou tirar muitas frases e falas de lá, tenho certeza ^^

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  4. Olá!

    Que hino de livro! Não sabia que o Pedro era disléxico, um belo caso de superação! Adorei a premissa e com certeza vou incluí-lo em minha lista de leitura!

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  5. Oie!
    Ainda não conhecia o título, mas fiquei curiosa para conferir.
    Gosto de livros que surpreendem do começo ao fim, daquelas que tornam livro favorito. Uma ótima dica!
    Com certeza, vou gostar dessa leitura.
    Bjks!
    Histórias sem Fim

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  6. Oi, tudo bom?
    Eu já vi lá nos stories da Record o pessoal falando a respeito dessa trama, gostei bastante dessa indicação que você trouxe, adoro conhecer novos atores escritores, e tenho certeza que este livro irá me surpreender bastante! <3
    Abraços,
    Milkshake de Palavras

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  7. Olá! Sou fã das posturas do Pedro Cardoso, que normalmente são a favor da grande população. Que bom saber que ele tem uma escrita boa! Legal saber que ele intercala a vida de 2 personagens, sendo um deles um leitor que não consegue ler nenhum livro, apesar de ama-los! Que bom que se surpreendeu com a leitura, quero ler em breve.
    Beijos!
    Karla Samira
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  8. Olá,

    Eu nunca ouvi falar do autor e nem do livro e confesso que a ideia chamou muito a minha atenção. A sua resenha foi muito essencial para o meu interesse, por isso, adorei o seu posicionamento e abordagens nela. Dica anota e pretendo ler em breve! ♥

    → desencaixados.com

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  9. Oi, tudo bem!
    Sou muito fã do Pedro Cardoso, não só pelo Agostinho mas também pela sua inteligência, adoro ver as entrevistas dele porque ele sempre fala alguma coisa que me surpreende. E por isso estou muito curiosa para ler seu primeiro romance, ainda mais agora que você disse que o livro é bom! ♥
    Bjs!

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