segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Deserto do Amor, de François Mauriac

Autor: François Mauriac
Título original: Le Désert de l'amour
Editora: José Olympio
Ano: 2017
Páginas: 182
Skoob
*Exemplar recebido em parceria com a editora.
Sinopse: O premiado romance de François Mauriac sobre um triângulo amoroso improvável O deserto do amor retrata o triângulo amoroso do doutor Paul Courrèges e seu filho adolescente, Raymond, pela mesma mulher: Maria Cross. Raymond, no auge dos seus 17 anos, encontra Maria Cross casualmente no bonde. Maria flerta com ele sem saber que o garoto é filho do seu estimado médico, Courrèges, desencantado com seu casamento e também apaixonado por ela. Publicado em 1925, O deserto do amor mantem-se atual tratando de enfermidades e vícios, da surda inquietação da juventude, das tentações falazes da carne e do ciúme descortinado.

François Mauriac foi um escritor, crítico literário, poeta e jornalista francês. Em 1952, Mauriac foi laureado com um Nobel de literatura. O Deserto do Amor, ganhador do Grand Prix du Roman, importante prêmio literário, foi publicado em 1925, com o fim da Primeira Guerra Mundial. A obra ganhou tradução em português por ninguém menos que Rachel de Queiroz (autora de, entre outros, O Quinze), e agora ganha uma nova edição pela editora José Olympio.

O Deserto do Amor apresenta um triângulo amoroso um tanto improvável. Paul Courrèges é um médico respeitado que se apaixona perdidamente por uma paciente, Maria Cross, uma mulher que, para ele, é quase uma santa. Esse seu amor aparentemente não correspondido por Maria acaba por afastá-lo dos próprios interesses familiares, e assim seus vícios se resumem ao trabalho e a essa nova paixão.

Raymond, filho mais novo de Paul, vive em inquietude; um rapaz introvertido que não consegue se aproximar das mulheres, nem se relaciona muito bem com sua família. Em uma viagem de bonde ele começa a observar uma bela mulher que faz o mesmo trajeto todos os dias, e uma faísca se acende no jovem, que teme se aproximar. Maria Cross também repara naquele garoto com cara de anjo, que parece tão inocente aos seus olhos. Assim, o triângulo amoroso tem início.
"Ah, como são importunos esses seres pelos quais nosso coração não se interessa, que nos escolheram e que não escolhemos! Tão fora de nós, de quem não queremos saber nada, cuja morte nos seria tão indiferente quanto a vida... e ainda são esses que nos enchem a existência."

Acompanhamos Raymond na casa dos 30 anos que, ao se encontrar com uma Maria Cross mais velha em uma festa em Paris, relembra o tempo em que a conheceu, e como ela mudou sua vida. Raymond fica dividido entre falar com ela e expor anos de sentimento e desejo reprimido ou esquecê-la de vez. Nessa mesma situação se encontrou Paul, o médico de Cross e pai de Raymond, que nunca teve coragem de falar com ela sobre o que sentia, mas ainda assim cobrava amor e atenção da mulher que adorava como a uma santa.

Já Maria, uma mulher de 27 anos que acabou de perder seu amado filho, vê em Paul além das necessidades de cuidado, mas um amigo e confidente. Meses depois, quando conhece Raymond, vê no menino um verdadeiro anjo, com sua timidez e rosto rosado de vergonha; enquanto o mesmo a vê então como uma conquista, incentivado por todos os comentários sobre ela que já ouviu.
"Não, ele jamais pensara em que seria um monstro, e não se supunha diferente dos outros homens, que, a seu ver, eram todos loucos, assim que se viam a sós consigo próprios e fora do controle alheio."

Os personagens se apaixonam pelo retrato que eles próprios pintam do outro, quando nenhum deles conhece de fato as motivações de cada um. Eles criam personagens para a pessoa amada (ou desejada) e esperam que a mesma atenda a suas expectativas exacerbadas. Um filho deseja o interesse amoroso do pai, enquanto Maria deseja, sem se deixar admitir, o filho mais novo de seu médico, e fica sempre entre esse desejo e o cuidado que Raymond desperta nela.

Pois é, nada é muito fácil em se tratando de um triângulo amoroso como esse, e Mauriac mantém essa complexidade do começo ao fim, convidando o leitor a refletir sobre ele. É um livro para ser lido com calma, e não dispensa também a releitura de alguns trechos.


Não foi um livro que me fisgou de cara; levei um certo tempo para me sentir dentro da obra e do conflito, para sentir a ligação entre os personagens e visualizar todo o cenário. Não é uma leitura difícil, de forma alguma, mas exige uma atenção maior.

A edição possui uma capa muito bonita com uma imagem do Jardin des Tuileries, um parque parisiense. Não encontrei erros de revisão.

Leitura recomendada!

2 comentários :

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Gaby!

    Só a premissa o livro já me despertou o interesse, mas depois de ler tuas impressões sobre a leitura, fiquei ainda mais instigada por essa obra que parece ser tão polemica e poética ao mesmo tempo. Ótima resenha! Beijos

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