segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Resenha || Variações Enigma, de André Aciman

Intrínseca, 2018 || 320 páginas || Skoob
Sinopse: Os sentimentos de Paul, tão intensos na adolescência,continuam a atormentá-lo na vida adulta: no sul da Itália, ainda jovem, quando se apaixonou pelo marceneiro de seus pais; em Nova York, onde acredita estar sendo traído pela namorada e se interessa pelo parceiro de tênis nas quadras do Central Park; em um campus coberto de neve em New England. Não importa onde ou quando, suas relações são caóticas, transitórias e marcadas pela força do desejo. Variações Enigma explora a impossibilidade de restringir uma pessoa a uma única linha melódica. Dessa forma, André Aciman mapeia os recônditos da paixão e revela a impiedosa e intrincada psique humana. Assim como em Me chame pelo seu nome, sua linguagem delicada, pungente e sincera lança uma luz sensorial sobre as facetas do desejo  

RESENHA ✍

Variações Enigma é o segundo livro de André Aciman (autor de Me Chame Pelo Seu Nome) publicado no Brasil pela editora Intrínseca. Com seu livro mais famoso adaptado para o cinema e premiado com um Oscar e um BAFTA (entre outros) como melhor roteiro adaptado, alguns leitores (eu incluída) aguardaram com grande interesse mais um romance de Aciman, que chegou em nossas livrarias esse ano.

Variações é um livro dividido em cinco partes que trás a história de Paul, um homem que começa a primeira dessas cinco "novelas" relembrando o verão em que tinha doze anos, na casa de veraneio de sua família em uma ilha da Itália. Nesse verão ele conheceu Giovanni, um marceneiro contratado por seus país para a restauração de um dos móveis antigos que lhe foram deixados de herança. Giovanni, mais de dez anos mais velho que Paul, encanta o menino até a obsessão. Esse é o verão em que Paul, apenas um garoto, começa a entender mais sobre si mesmo e sobre a dinâmica de sua família.
"Sim, o passado é um país estrangeiro - falei -, mas alguns de nós são cidadãos de pleno direito, outros turistas ocasionais e outros itinerantes incertos, ansiosos por ir embora, mas sempre desejosos por voltar. Há uma vida que acontece no tempo normal e outra que a interrompe, e desaparece tão repentinamente quanto chegou. E existe a vida que talvez nuca alcancemos, mas que poderia tão facilmente ser nossa se soubéssemos como encontrá-la. Não acontece necessariamente no nosso planeta, mas é tão real quanto a que vivemos... podemos chamá-la de 'vida estelar'."

Esse é o primeiro impulso que o protagonista de Variações recebe para a vida e os romances que seguiriam. Paul é um homem de paixões intensas, que ama com tudo o que há em si e se vê obcecado com pessoas que ele não pode ter, mas que deseja ardentemente. Tudo em sua vida, seus diálogos e nas relações que costura em sua intimidade é intenso até a última linha; parece que Paul não consegue entrar em uma relação, seja qual for, sem ficar obcecado e idealizar situações e romances em sua cabeça, onde cria os mais absurdos cenários e os mais poéticos diálogos.


Vi muito do Elio e do Oliver (protagonistas do livro Me Chame Pelo Seu Nome) no Paul; ele, sem dúvida, tem a intensidade que é característica de ambos. Variações Enigma acompanha o personagem em diferentes fases de sua vida, mas captamos muito do Paul de 12 anos (ou Pauly, como era chamado carinhosamente), compreendendo ainda seus desejos e as engrenagens do seu ser.
"O arrependimento é o modo como esperamos voltar para nossas vidas reais assim que encontrarmos a determinação, o impulso cego e a coragem d trocar a vida que nos foi dada pela vida que tem nosso nome e nenhum outro. O arrependimento é o modo como ansiamos por coisas que perdemos, mas nunca tivemos de verdade. O arrependimento é a esperança sem convicção, eu disse. Estamos divididos entre o arrependimento, que é o preço que pagamos pelas coisas que não fazemos, e o remorso, que é o preço que pagamos por fazê-las. Entre um e outro, o tempo se diverte com seus convidativos truques."
André Aciman tem uma escrita que nos envolve, emociona e faz  refletir e questionar. Os pensamentos do Paul, tão caóticos, os diálogos travados em sua mente, os diálogos reais, suas obsessões e relacionamentos que ficam entre o amor e a doença, o deslumbre, o sexo, tudo numa corda bamba que aguenta seu peso por muito pouco.

Paul é um homem bissexual, e sendo a bissexualidade um tema já abordado em seu livro anterior, Aciman não se deixa cair em clichês, nos achismos aos quais estamos acostumados na literatura LGBTQ+. É melancólico, um pouco lento em sua execução, mas interessante de se acompanhar.

Foi uma leitura que me envolveu, perdeu o ritmo na metade mas se recuperou nas duas últimas partes. Recomendo a leitura, principalmente se você já leu Me Chame Pelo Seu Nome e gostou ;)

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