sábado, 21 de abril de 2018

Resenha || O Sol na Cabeça, de Geovani Martins

Companhia das Letras, 2018 || 122 páginas || Skoob
Sinopse: Em O sol na cabeça, Geovani Martins narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades inerentes à idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da “Cidade partida”, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI. Em “Rolézim”, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A história do Periquito e do Macaco”, assistimos às mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Situado em 2013, quando a maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do secretário de segurança José Beltrame como a panaceia contra todos os males, o conto mostra que, para a população sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla não era exatamente uma realidade. Em “Estação Padre Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais. Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma mais que bem-vinda novidade.  

RESENHA ✍

O Sol na Cabeça é o livro de estréia do jovem carioca Geovani Martins no mercado editorial, e ele já chegou fazendo barulho! Artistas como Chico Buarque e Nelson Motta, e também o premiado escritor Milton Hatoum, já elogiaram a obra.

O livro reúne 13 contos curtos que vão narrar a vida de jovens garotos do Rio de Janeiro em diversos cenários e situações. No primeiro conto acompanhamos um grupo de amigos que contam as moedas para ir dar um rolé na praia e lá se deparam, não pela primeira ou última vez, com os olhares de preconceito e o racismo velado; na hora de ir embora, dão de cara com uma ação policial.

Esse foi meu conto favorito do livro. A linguagem que o autor usa é tão real e  que eu senti que estava naquele lugar, com aqueles garotos, e senti uma aflição e sentimentos que só um livro bem escrito assim é capaz de causar.
"É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio, com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros."
Os contos mostram uma realidade bem triste, assustadora até, e ainda uma realidade. Temos personagens aqui que se veem de um lado na mira de um fuzil, na outra na mira do racismo, da ignorância e da falta de oportunidade; jovens que não podem andar livremente em certas áreas por conta de ódio gratuito, por cor de pele... revoltante.

E o autor não tenta maquiar nada, pelo contrário: ele expõe aquilo que milhares de jovens negros vivem diariamente nas favelas, nos bairros nobres, em todo lugar.

Como Milton Hatoum disse em seu comentário sobre O Sol na Cabeça, "é um livro necessário em tempos de intolerância, ódio e ignorância".

Leitura recomendadíssima!

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