quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Resenha || Sonata em Auschwitz, de Luize Valente

Record, 2017 || 378 páginas || Skoob
Sinopse: Um bebê nascido nas barracas de Auschwitz-Birkenau, em setembro de 1944. Uma sonata composta por um jovem oficial alemão, na mesma data, também em Auschwitz. Duas histórias que se cruzam e se completam. Décadas depois, Amália, jovem portuguesa, começa a levantar o véu de um passado nazista da família a partir de uma partitura que lhe é revelada por sua bisavó alemã. A dúvida de que o avô, dado como morto antes do fim da Segunda Guerra, possa estar vivo no Rio de Janeiro, a leva a atravessar o oceano e a conhecer Adele e Enoch, judeus sobreviventes do Holocausto. A ascensão do nazismo na Alemanha, culminando na fatídica Noite dos Cristais, a saga dos judeus húngaros da Transilvânia, os guetos na Hungria e Romênia, os trens para Auschwitz, os mistérios acontecidos no campo de extermínio da Polônia e o pós-guerra numa casa cheia de segredos num lago de Potsdam oferecem os trilhos que Amália percorrerá para montar o quebra-cabeça.  

RESENHA ✍

Nesse livro vamos conhecer Amália, uma jovem portuguesa descendente de alemães que, após ouvir uma ligação misteriosa de seu pai, viaja para a Alemanha e posteriormente ao Brasil em busca de respostas sobre o passado misterioso de sua família, já que esse sempre foi um assunto proibido em sua casa. 

Determinada, persistente e curiosa, ela vai até às últimas consequências e acaba se deparando com uma história de compaixão, sacrifício, amor e morte.

Sonata em Auschwitz, livro escrito por Luize Valente e publicado recentemente pelo Grupo Editorial Record é uma história extremamente forte, emocionante e surpreendente sobre a procura por quem realmente somos.
"No sótão, vivem-se as horas de longa solidão. (...) No sótão também as intermináveis leituras. No sótão, o disfarce com os trajes de nossos avós, com o chale e os laços. (...) Ali, as coisas velhas se imprimem, para o resto da vida, na alma da criança. Um devaneio dá vida a um passado familiar, à juventude dos antepassados."
Quando tive a oportunidade de solicitar esse livro para resenha, não tive dúvidas de que essa seria a escolha certa, pois amo a temática do holocausto e depois de termina-lo, vi que estava certa, pois ele entrou pra minha lista de favoritos da vida. Esse livro me impactou de uma forma surpreendente, sua narrativa é forte e crua, mais verdadeiro que esse livro, só vivenciando sua história na pele; nele, a autora soube mesclar uma escrita poética e fluida com uma narrativa arrebatadora, sem romantização dos acontecimentos em momento algum.


Os capítulos são alternados entre o passado e o presente, entre uma narrativa em primeira pessoa, sob o ponto de vista da personagem principal, Amália, e uma narrativa em terceira pessoa, que nos mostra o passado dos personagens. Assim, o leitor passa a viajar por lembranças ao mesmo tempo que acompanha o "agora", e vai junto a personagem, descobrindo os segredos de seus antepassados.
"Dor é coisa que se sente. Quando muito intensa, se espalha no ar. Sinto a dor de Adele. E não posso fazer nada. Passados sessenta anos, ninguém pode fazer nada."
Como disse anteriormente, a autora não poupa o leitor de nenhum detalhe, conta com total verossimilhança os detalhes do confinamento dos judeus no campo de extermínio, e o que aconteceu até os personagens finalmente conseguirem a liberdade. Tanto os personagens quanto as ambientações foram escritos com maestria; eu geralmente não gosto muito de livros narrados em duas épocas distintas, fico um pouco perdida, mas a autora tem uma forma de narrar que é tão particular que me fez mergulhar de imediato na narrativa e me interessar totalmente pela vida de cada personagem, tanto do passado quanto do presente; não tem como não se sentir íntimo de cada um e tomar seu sofrimento para si.


Uma das coisas que mais me chamou atenção foram os fatos verídicos entrelaçados aos ficcionais, tudo foi amarrado de forma tao perfeita que da até pra confundir ficção com realidade; das personalidades verídicas, aos personagens criados pela autora, são todos extremamente bem desenvolvidos.
"Para que vale a verdade? O que é a verdade? (...) Dizem que os bons pereceram em Auschwitz. Eu acredito que Auschwitz pereceu nos bons. Bons como Adele. Que vivem apesar de. São viventes. O resto de nós é sobrevivente."
A sonata que dá nome ao livro, que pode ser ouvida no site da autora (Clique aqui), é realmente muito linda e emocionante. A edição está impecável, a capa diz muito sobre o conteúdo, delicada e forte ao mesmo tempo (se é que isso é possível); ao final encontramos as Árvores Genealógicas das famílias dos personagens, mas por favor, não as vejam antes do fim da leitura, pois obviamente irá conter spoilers e estragará a experiência de leitura. 

Enfim, esse livro me tocou de uma forma que eu não havia sido tocada por nenhum outro há muito tempo. Ao fazer essa leitura, pude me lembrar o quanto a realidade pode ser dura, mesmo quando entrelaçada com a ficção, mas também pude perceber que até nos momentos mais difíceis de nossas vidas é possível encontrar pessoas de bom coração.

2 comentários :

  1. Oi Maria Eduarda!
    Já tinha visto a capa por aí e tinha me chamado a atenção, mas nunca pesquisei sobre a premissa. Essa é a primeira resenha que leio e fiquei impactada, parece ser bem incrível. Gosto quando autores abordam temas importantes de forma real, crua, que faz o leitor sentir na pele tudo. Já quero ler.
    Beijos

    www.lendoeapreciando.com

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    1. Oi Kamilla!

      Esse livro é realmente incrível, espero que goste tanto da leitura quanto eu. Beijos

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