terça-feira, 15 de agosto de 2017

Cinzas do Norte, de Milton Hatoum

Autor: Milton Hatoum
Editora: Companhia Das Letras
Ano: 2014
Páginas: 312
Skoob
Sinopse: Cinzas do Norte, terceiro romance de Milton Hatoum, é o relato de uma longa revolta e do esforço de compreendê-la. Na Manaus dos anos 50 e 60, dois meninos travam uma amizade que atravessará toda a vida. De um lado, Olavo, de apelido Lavo, o narrador, menino órfão, criado por dois tios mal-e-mal remediados, que cresce à sombra da família Mattoso; de outro, Raimundo Mattoso, ou Mundo, filho de Alícia, mãe jovem e mercurial, e do aristocrático Trajano. No centro das ambições de Trajano está a Vila Amazônia, palacete junto a Parintins, sede de uma plantação de juta e pesadelo máximo de Mundo. A fim de realizar suas inclinações artísticas, ou quem sabe para investigar suas angústias mais profundas, o jovem engalfinha-se numa luta contra o pai, a província, a moral dominante e, para culminar, os militares que tomam o poder em 1964 e dão início à vertiginosa destruição de Manaus. Nessa luta que se transforma em fuga rebelde, o rapaz amplia o universo romanesco, que alcança a Berlim e a Londres irrequietas da década de 1970, de onde manda sinais de vida para o amigo Lavo, agora advogado, mas ainda preso à cidade natal. Outros fios completam o tecido ficcional de Cinzas do Norte - uma carta que o tio Ranulfo envia a Mundo, uma outra que este deixa como legado para o amigo de infância. São versões e revelações que se cruzam ou desencontram, sem jamais chegar a esgotar o enigma de uma vida singular ou a diminuir a dor da derrota final, às mãos da doença, da solidão e da violência.

Neste livro vamos acompanhar a história de Raimundo, mais conhecido como Mundo, sob o ponto de vista de Olavo, ou simplesmente Lavo, um garoto órfão e o melhor amigo de Mundo desde a infância. Mundo é filho de Trajano, um grande exportador de juta e espera que seu herdeiro, siga seus passos. Mas mundo não liga para a riqueza, muito menos para o negócio dos pais, o que ele realmente quer da vida é se tornar um grande pintor.

Sua rebeldia e falta de interesse pelas coisas do pai deixa Jano revoltado, ele tenta fazer de tudo para acabar com o sonho de seu filho, mas isso só faz com que Mundo tenha cada dia mais vontade de ir atrás do que realmente quer para sua vida. Apoiado pela mãe, Alícia, o garoto faz de tudo para seguir sua vocação, mesmo depois que seu pai toma a decisão de tirá-lo da cidade e o por para estudar em um colégio militar.

Em Cinzas do Norte do autor nacional Milton Hatoum, o autor narra duas décadas das vidas desses personagens tão peculiares; essa é uma história muito forte e surpreendente sobre relações familiares, amizade e a busca pelos sonhos.
"Uns vinte anos depois, a história de Mundo me vem à memória com a força de um fogo escondido pela infância e pela juventude."
Sobre Minha Experiencia de Leitura: A história é ambientada na Manaus dos anos 50 aos anos 70 em pleno regime militar. Aqui acompanhamos não só os conflitos entre Mundo e seu pai, mas também a vida simples e difícil de Lavo morando com seus tios Ranunfo e Raimunda, um alcoólatra vagabundo e uma costureira.

A história se torna cada vez mais interessante com o decorrer da narrativa, conforme os garotos crescem e as histórias do passado de cada personagem vão sendo reveladas ao leitor, passamos a entender suas vidas e as razões de seus conflitos, principalmente entre os pais do personagem principal.

O que mais me instigou na leitura foram as cartas que se intercalam à narrativa e que são cruciais para o desfecho da trama. E por falar em desfecho, esse foi extremamente surpreendente, não me passou em nenhum momento pela cabeça que aquilo poderia acontecer, e quando aconteceu, eu fiquei totalmente impressionada.

Uma das coisas que me deixou mais apaixonada pelo livro, foi a grandeza da cultura do norte do país, que é sempre marca registrada nas obras do Hatoum e já tinha me deixado completamente apaixonada em sua obra anterior, Dois Irmãos. Mas em Cinzas do Norte, o autor mergulhou mais a fundo na cultura e nos costumes dessa região tão esquecida por nós brasileiros e pela literatura em si.

E o mergulho foi tão profundo que me senti completamente imersa naquele ambiente tão rico e bonito. O autor faz questão de expor muitas características locais, principalmente ligadas à gastronomia, aos índios e à geografia do lugar, sem falar na pobreza da população ribeirinha que permeia toda a obra.
“‘Estou trabalhando, mana”, disse tio Ran. “Trabalho com a imaginação dos outros e com a minha.’ Ela estranhou a frase, que algum tempo depois eu entenderia como uma das definições de literatura”.
O livro é curto e sua leitura é bastante fluida. Os personagens como sempre foram ricamente construídos e desenvolvidos ao longo da narrativa, todos muito reais, a empatia com cada um deles acontece de forma natural e imediata.

A escrita de Milton Hatoum é bastante simples, direta e apaixonante, poucos autores tem a capacidade de escrever um livro tão cru e poético como ele, transformar um dramalhão familiar em uma coisa tão agradável de ler é coisa pra poucos, e é por essas e por outras que ele e suas obras não vão sair da minha vida nunca mais.

Este é mais um livro nacional que me ganha neste ano e que se torna um dos favoritos da minha vida.

4 comentários :

  1. Oi Maria Eduarda!
    Não conhecia a obra e nem o autor. Mas já fiquei curiosa pela trama se passar no norte do Brasil, principalmente pela época onda a história se passa. Os personagens parece ser ótimos! Sem dúvidas fiquei morrendo de curiosidade pra conhecer a obra e o autor.
    Beijos

    www.lendoeapreciando.com

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    1. Oi Kamilla!

      Essa obra é toda maravilhosa, espero que goste da leitura! Beijos

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  2. Oi, Duda!
    Adorei a resenha e o plot do livro. Gostei ainda mais por se passar em uma região pouco explorada pela literatura!
    Como sempre, ótima crítica!
    Abraços.

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    1. Oi, Elton!
      Fico muito feliz que tenha gostado. Obrigada!

      Abraço

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