segunda-feira, 12 de maio de 2014

MeusDevaneios #1 Meio Vazio



Ela, olhando as ondas irem ao encontro das pedras, o céu de um azul incrível e a areia coberta por conchas, deitou sob sua toalha com a imagem da Barbie e desatou a sonhar.
O mundo era bonito ali, era calmo e era agitado, era vazio e era cheio e era lindo e era feio. 
Lutando contra aqueles pensamentos que a faziam sofrer, vivendo por viver pois tudo acaba um dia, ou, tudo acaba em um dia. 
Ela sonhou, e imaginou, fez isso porque era tudo o que podia fazer, não podia voltar ao passado, não podia entrar de cabeça em um livro e nunca mais sair dele, mas bem que ela queria. 
Pensou nos livros da Jane Austen, pensou em seu orgulho e em seu preconceito, pensou na sua vida e em seus defeitos, no real e no imaginário. Ela tem um sorriso e ela tem suas lágrimas, lágrimas que pesam mais que o céu em toda sua imensidão, e um sorriso feito especialmente para ela. 
Ela entrou em um lugar perigoso ali, em seus pensamentos, quis explorar o inexplorável, ela queria compreender o incompreensivo  e ela queria também voar sem ter asas, queria ter asas e queria se apaixonar, queria sumir e queria voltar, ela queria tanto e não tinha nada, queria o futuro e não queria viver, queria paz e queria lutar, queria um coração novo para outro poder quebrar. 
Agora ela iria morrer. 
2 meses de vida, disse o médico. 
Agora ela teria que encher seu copo meio vazio e aproveitar o que lhe restava. 
Saía sem rumo em busca de si mesma, e ela buscava em si mesma um rumo ao qual seguir.
Ela teria que abandonar sua vida meio vivida, seu mundo meio justo, seu cabelo meio rebelde. 
Queria ler todos seus livros, queria escutar todos os seus discos, queria assistir  todos os filmes que desejava, queria assistir Grey's Anatomy e chorar mais um pouco. Ela queria sorrir aos montes.  
Ela correu ao encontro do mar, poderia ser a última vez que ela veria aquilo, então reparou na cor da água, na velocidade das ondas, no cheiro, nas pessoas, no céu, nas crianças, no calor, nas formas das conchas, no barulho do motor da lancha... ela reparou no presente, reparou no agora.
Ela não sabia se ria ou chorava, mas encontrou uma maneira de viver eternamente, para viver eternamente precisamos nos sentir infinitos, o que é infinito não acaba. 
2 meses e duas semanas depois, depois de anos na fila de espera, anos de dor, de sofrimento e de angustia, ela agora vive eternamente, nesse texto, nessas linhas, nessas palavras. 
Ela se foi, se foi no inverno, se foi na primavera se foi no outono... eu não sei, mas ela se foi com o vento, não com toda a podridão do mundo, ela se foi  com o cheiro do mar, com a brisa, com o as ondas, com as palavras não pronunciadas e com a vida meio vivida, se ela vai voltar eu não sei, não ELA, mas a onda, a onda que encheu seu copo. 

4 comentários :

  1. Nossa, que texto :O adorei, bem tocante... continue escrevendo, menina! rsrs
    Beijos,
    Renata.
    viciadas-em-livros.blogspot.com.br

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  2. tem talento Gabi, bote a cabeça pra funcionar que você vai longe escrevendo tão bem!
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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