sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Resenha || A Fúria e outros contos, de Silvina Ocampo

Companhia das Letras, 2019 || 224 páginas || Skoob
Sinopse: Os contos de Silvina Ocampo ― monstruosos, insólitos, perturbadores, sinistros, irreais ― são o tesouro mais bem guardado da literatura latino-americana do século XX. Finalmente vemos chegar ao Brasil um livro de Silvina Ocampo, que está entre os escritores mais surpreendentes e intensos do continente. Publicado em 1959, A fúria é considerado “o mais ocampiano” dos livros de Silvina, obra em que a autora encontra sua voz única e inaugura seu universo alucinado. Revalorizada com entusiasmo nos últimos anos, a literatura de Silvina Ocampo é singular, complexa, envolvente e nos convida, como poucas, à fantasia e à imaginação.  

RESENHA ✍

Depois de ler os contos presentes em A Fúria eu senti imediatamente uma vontade imensa de procurar saber mais sobre quem foi Silvina Ocampo. Encontrei um ótimo artigo de Mariana Enriquez (autora de As Coisas que Perdemos no Fogo, que é maravilhoso), explicando um pouco quem realmente foi essa escritora argentina, seu comportamento que despertava tanta curiosidade na época (principalmente sobre seu casamento aberto com Bioy Casares). Eu já tinha lido os contos antes de pesquisar sobre sua vida, mas fazer isso me ajudou a compreender melhor essas narrativas tão estranhas.
“Somos um compêndio de contradições, de afetos, de amigos, de mal-entendidos – me dia Elena. Certamente pensando em mim, acrescentava: ¬– Somos monstros (...). Somos também o que as pessoas fazem de nós. Não amamos as pessoas pelo que são, e sim pelo que nos obrigam a ser” (trecho retirado do conto ‘A Continuação’, um dos meus favoritos).
Os contos de Silvina trazem um estranhamento que perdura durante todas as 224 páginas que compõem o livro, aumentando conforme vamos adentrando histórias espetaculares, finais abertos, personagens bizarros e acontecimentos imprevisíveis. O imprevisível, de fato, é personagem presente em todas essas histórias

"Nos seus contos há algo que não consigo compreender: um estranho amor por certa crueldade inocente e oblíqua" disse Jorge Luis Borges (seu velho amigo) sobre seu estilo.

E há mesmo algo de inacreditável, algo de estranho (Silvina foi uma mulher considerada estranha), algo entre personagens que chegam e parecem inocentes, mas a crueldade e a ousadia logo se apossam deles. Silvina foi uma escritora ousada, desafiadora, e seus contos traduzem sua personalidade única. Está aí alguém que eu gostaria de ter conhecido!
“(...) pois nem todos os seres são lúcidos, nem capazes de ler o destino nos signos que diariamente surgem ao redor de si” (conto ‘Carta perdida em uma gaveta’).
O conto “A Fúria” que dá título ao livro também foi um dos meus favoritos, entre vários outros.

Entendi tudo o que li? Acho que não. Acho que é desses livros que se transformam a cada releitura. Recomendo muito para leitores de realismo mágico e narrativas absurdas. Conheçam a senhora Ocampo.

Resenha publicada originalmente em nosso instagram: https://www.instagram.com/mydearvangogh/

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