segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Resenha || Entre as Mãos, de Juliana Leite

Editora Record, 2018 || 256 páginas || Skoob
Sinopse: Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2018 na categoria Romance. Conduzido com precisão e movido por uma poderosa força que impulsiona todo o relato, Entre as mãos gira em torno de Magdalena, uma tecelã que, depois de um grave acidente, precisa retomar seus dias, reaprender a falar e levar consigo dolorosas cicatrizes — não apenas no corpo. Com personagens e tempos narrativos que se atravessam como fios trançados, este romance tem a marca de peça única, debruçando-se sobre questões como sobrevivência e ancestralidade, mas também amor e mistério a partir do corpo, do trabalho e dos gestos da protagonista, em duas fases de sua vida. 

RESENHA ✍

Entre as Mãos é o romance de estréia da escritora carioca Juliana Leite, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2018. Esse é um livro de narrativa não linear, formado como que por retalhos; uma colcha intrincada, feita a mão, formada por fragmentos de memória, lembranças, nem sempre confiáveis.

Aqui conhecemos a personagem Magdalena através de fragmentos de memória. Magdalena é uma tecelã que vende tapetes na feira, de vida simples; indo trabalhar, sofre um acidente no trânsito e tem o corpo dilacerado. Sua mão queima, seu útero é retirado, suas pernas e braços custam a funcionar, sua fala é prejudicada e também seu trabalho, o de tecer linhas e mais linhas com as mãos na construção de lindos tapetes... Agora, ela volta a morar com as três tias que a criaram para se recuperar do acidente. As quatro dividem um apartamento pequeno, sobrevivendo com pouco, mas com todo cuidado que uma pode dar a outra.
"Está aí algo que ainda tenho de você em mim: a habilidade de tomar as linhas soltas, as partes inexplicadas que sempre existem, dando a elas um encaixe, um lugar possível e modesto no conjunto de uma trama." p. 133
Essa foi uma trama que me surpreendeu bastante, tanto pela narrativa mais intrincada quando pela história em si e seus personagens. Foi uma leitura que me deu um nó na cabeça, e até agora estou tentando entender de fato o que aconteceu.


Não foi uma leitura das mais fáceis; fiz ela quase toda com a testa franzida, a cara de quem se esforça para não deixar escapar o fio que une os pedaços da trama. Mas isso só deixou a leitura mais interessante, imprevisível. A autora podia seguir pelas mais diversas direções, ela escreveu de forma a ter essa liberdade, a liberdade pra mudar a história, os personagens, a forma narrativa. Foi bem intenso. A escrita da Juliana é muito bonita, forte, e me encantou desde a primeira página.
"Você planejava as entradas dos parágrafos, a numeração dos capítulos, cuidando para que as cortinas e as cenas das cortinas, os corpos e as cenas dos corpos os lábios e os lábios em movimento para que tudo funcionasse. Você achou aquilo parecido com fazer tapetes. Tramar e escrever, coisas que se fazem com as mãos." p. 149
 Certamente uma leitura que recomendo, e espero ter a oportunidade de continuar acompanhando e prestigiando o incrível trabalho da Juliana :)

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